Quem precisa de Arquitectura Verde
Hoje em dia só se fala de Arquitectura "verde". Está nos jornais, nas revistas, na televisão. Muitos dos meus colegas são baptizados da noite para o dia como "peritos" em arquitectura "verde", enquanto os seus clientes, que de repente se preocupam com o meio ambiente, vão trabalhar nos seus SUVs (híbridos). As comunidades, que se querem tornar "verdes", estão muitas vezes relutantes em comprometer-se com o estilo de vida sustentável que isso significa.
É muito difícil instilar o senso comum e a prática "verde" num mundo de consumo. Num mundo que não conhece limites para quanto cada um pode tirar do comum global, quanto cada um pode poluir e quanto cada um pode impor a sua pegada de carbono nos recursos de outros. É muito difícil incutir um sentido de responsabilidade àqueles que querem fazer a diferença, mas, gostando de dinheiro, são muito cínicos quando se trata de proteger crianças, mulheres, o ambiente, ou de ajudar a tornar o mundo um lugar mais justo e mais saudável para viver.
Num mundo de arquitectos de carreira e de arquitectos estrela, que são pagos à percentagem sobre o custo das construções, não faz mal gastar milhões com edifícios certificados pelo LEED (Leadership in Energy and Environmental Design – sistema de certificação ambiental nos EUA*), quando a riqueza acumulada nesses edifícios tem muito mais impacte do que a poupança energética que o edifício terá em toda a sua vida útil. Também não pensamos duas vezes quando encomendamos sistemas de AVAC caríssimos (AVAC- aquecimento, ventilação e ar condicionado*) - quando o consultor é pago em percentagem do custo do sistema; quando abrir uma janela ou aplicar sombreamento e isolamento térmico adequado, pode muitas vezes ser mais eficaz (e certamente de menor consumo e manutenção, e mais saudável).
Quando nos deparamos com o que está a ser construído hoje em dia em muitas partes do planeta, ou como empreendedores e arquitectos se relacionam com a nossa profissão no século 21, temos a sensação que eles vivem num planeta diferente. Podem intitular-se de "verdes" por colocar um sistema para recolher água da chuva, mas continuam a isolar mal os edifícios - pois o cliente que vai pagar a factura do aquecimento e arrefecimento todos os meses, nunca vai saber a verdade.
Não estou a falar de regulação, uma vez que nos países em que pratico, as entidades reguladoras parecem não apenas estar noutro planeta, como também numa outra época. As suas políticas são frequentemente tão irrelevantes, que é difícil falar de regulamentação suficiente quando não há inteligência suficiente e muito menos senso comum. Assim, questões como a regulamentação do consumo de energia nos edifícios, de avaliação do ciclo de vida de edifícios, construção ou gestão de resíduos são frequentemente recomendadas mas não obrigatórias; são boas ideias para colocar nas agendas eleitorais, mas certamente não serão uma prioridade para a execução, pelo menos em seus 4 anos de mandato.
Portanto, não é de admirar que os edifícios consumam hoje cerca de metade da energia produzida na Europa e sejam responsáveis por uma grande percentagem das emissões de CO2 para a atmosfera. Cada item especificado num edifício, e o sistema AVAC a funcionar todos os dias no período de vida do edifício, torna a construção num contribuinte para o problema, não só das alterações climáticas, mas, pior ainda, para o adiamento da solução.
Mas qual é a solução? Têm-me perguntado muitas vezes, sempre seguido pela pergunta: "Mas não é a arquitectura 'verde' mais cara?"
É a pergunta errada, pois não acredito que a solução seja gerada no mesmo espírito que gerou o problema. Os edifícios ‘verdes’ podem realmente ser mais baratos se devidamente planeados e especificados; isolamento e sombra adequados, por exemplo, podem reduzir a necessidade de ar condicionado sobre dimensionado. É uma questão de profissionais que se movem para a próxima fase. Levou 40 anos aos judeus a chegarem à Terra de Israel depois de terem deixado o Egipto como escravos. Hoje, embora escravos do consumo, não podemos manter os nossos arquitectos no deserto durante 40 anos, por isso temos de lhes dar um tipo diferente de educação; educação que irá ajudá-los a fazer escolhas diferentes e a tornarem-se melhores profissionais e mais ambientalmente conscientes. Não apenas melhores arquitectos, mas também cidadãos mais activos e responsáveis.
Citando David Orr (Earth in Mind, 111), no nosso sistema educacional especializado, institutos de educação devem ‘dotar os jovens com um entendimento básico de sistemas’ para ‘procurar "os padrões que ligam" sistemas humanos e naturais; para ensinar os jovens [...] a causa e o efeito; para dar aos alunos competências práticas [...] para resolver problemas locais, e para [lhes] ensinar o hábito para “arregaçar” as mangas e trabalhar ‘.
Educação, citando Ortega y Gasset (in EF Schumacher 'Small is Beautiful', 66) "é a transmissão de ideias que permite ao homem escolher entre uma coisa e outra". Temos de dar aos nossos jovens arquitectos novos tipos de escolhas e novas formas de resolver os problemas que a nossa geração criou.
A ONG ECOWEEK tem vindo a sensibilizar o público sobre as questões ambientais desde que começou a sua actividade na Grécia em 2005. Hoje opera na Europa, nos EUA e no Médio Oriente, reunindo escolas, jovens profissionais e estudantes de arquitectura, com o objectivo de intervir na educação das pessoas que irão moldar o nosso futuro (arquitectónico). O Movimento Moderno não aconteceu simplesmente. A dependência de combustíveis fósseis não aconteceu simplesmente. Estes são processos conscientes que aconteceram na nossa geração. É tarefa das nossas gerações preparar a nova geração para os novos processos, aqueles que irão estabelecer o equilíbrio entre as práticas de edifícios inteligentes e sustentáveis, com os processos naturais e os limites de nossa biosfera.
Elias Messinas (arquitecto graduado por Yale, praticante na Grécia, Israel, Chipre e EUA , Fundador e Presidente da ONG ambiental internacional ECOWEEK, activa na Europa, EUA e Médio Oriente)