O MP, o Procon, o CONAR e as sacolinhas dos supermercado
Sustentabilidade

O MP, o Procon, o CONAR e as sacolinhas dos supermercado


Por Juvenal Azevedo*

Dia 3 de abril vence o prazo de 60 dias do TAC (Termo de Ajustamento de Conduta), firmado pela APAS com o ministério Público e o Procon, que já havia recebido muitas reclamações formais de consumidores contra os supermercados representados pela APAS, uma entidade que, intramuros, é capitaneada pela rede Pão de Açúcar, a principal associada, de olho na propalada “economia” de 550 milhões de reais que seria proporcionada aos mercadistas com a abolição da entrega das sacolinhas plásticas aos fregueses dos mercados.Por que escrevi “economia” entre aspas? Ora, porque o custo das sacolinhas já está embutido no custo dos produtos vendidos pelos supermercados.
Assim, não se trata de economia, mas da usurpação de um direito adquirido pela freguesia da rede mercadista. O consumidor já está pagando pela sacolinha, logo, tem direito a ela.O fato novo relativo a essa sacanagem mercadista é que o CONAR, o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária, no dia 9 de março corrente decidiu, por unanimidade, que a Associação Paulista de Supermercados (APAS) deve suspender imediatamente sua campanha publicitária contra as sacolas plásticas, pois a campanha “Vamos tirar o planeta do sufoco” não respeita o cidadão, tratando-se de uma tentativa de publicidade enganosa.
E mais: a campanha não se mostrou verídica e não apresentou qualquer dado científico que embase os apelos ambientais citados nos anúncios, não apresentou fontes científicas para comprovar suas posições. E também, em momento algum da campanha a APAS informou ao cidadão que o custo das sacolas já está embutido no preço dos produtos e que, apesar de deixar de distribuí-las, estas continuariam a ser cobradas indiretamente, caracterizando claro prejuízo econômico ao consumidor, sem trazer a ele nenhuma vantagem ambiental. De olho na propalada “economia” de 550 milhões de reais, a APAS ainda continua querendo fazer com que os fregueses dos supermercados é que tenham de meter a mão no bolso para adquirir as chamadas embalagens recicláveis, que de recicláveis não têm nada, aumentando ainda mais os já gordos lucros das grandes redes mercadistas como o Pão de Açúcar.
Como se costuma dizer, a APAS “quer tirar as castanhas do fogo com a mão do gato”, mas está sendo impedida por uma forte corrente de consumidores conscientes dos seus direitos que nasceu na internet e cresce cada vez mais, mesmo tendo de enfrentar o boicote da chamada “grande imprensa”, beneficiária dos grandes anúncios da rede mercadista e que, até hoje, não publicou a decisão do Conar nas páginas de seus jornalões, assim como não publica as cartas de leitores e os artigos contrários à demagógica campanha da APAS que o CONAR proibiu. Quem quiser ler a decisão do CONAR na íntegra é só olhar no site da entidade: www.conar.org.br.
Cabe agora ao Ministério Público e ao Procon acabarem definitivamente com  essa tentativa mercadista de transferir o custo das sacolinhas para o consumidor final. A guerra contra a ganância e o cinismo dos donos de supermercados continua, bastando lembrar que as sacolinhas são usadas para recolher os diversos lixinhos domésticos das cozinhas, banheiros e outras dependências das casas, além de serem bastante utilizadas no recolhimento do cocô dos cachorros em vias públicas. Se fossem banidas como a APAS e sua imensa cara de pau desejam, os consumidores teriam de adquirir os famosos sacos pretos de plástico nos supermercados, aumentando o lucro dos gananciosos donos das grandes redes e deixando de lado o fato de que estes, sim, são de fato poluidores, gerando entupimentos para as ruas e bueiros e para os  rios,  córregos e  lagoas.
Vamos parar de hipocrisia e de imaginar que o consumidor é bobo, senhores da APAS: os supermercados são um imenso playground de embalagens não recicláveis. É só ver as embalagens pets dos refrigerantes, os plásticos dos danoninhos e demais laticínios, as embalagens plásticas de arroz, feijão, farinhas, macarrão, biscoitos, as águas minerais, os envoltórios das caixas de leite, os detergentes e materiais de limpeza, as bandejinhas e os filmes plásticos que embalam as carnes, frangos, frios e queijos, ou seja, praticamente tudo que neles é vendido é embalado em plástico. Mas como essas embalagens já vêm dos fabricantes, o jeito de conseguir aumentar o lucro dos mercados é, demagogicamente, tentar tirar as sacolinhas de circulação, transferindo o custo para o pobre consumidor final, com a conivência dos jornais e de outros veículos de comunicação. Pobre “grande mídia”, mais uma vez curvada ao interesse dos maus comerciantes.
Ministério Público e Procon: juntem-se ao CONAR e proíbam os supermercados de lesarem seus fregueses. Antes mesmo de 3 de abril acabem
com a demagógica campanha da APAS e obriguem os supermercados a continuarem fornecendo as sacolinhas para o transporte das suas compras. O povo agradece.

*Juvenal Azevedo é jornalista (e-mail: [email protected])



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