Sustentabilidade
Entrevista entre José Goldemberg e Revista Horizonte Geográfico
“Precisamos economizar energia”...2008
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O professor José Goldemberg é um cientista que reconhece os limites da tecnologia e seus efeitos no meio ambiente. Defende como poucos as fontes energéticas alternativas, desde quando se tornou referência antinuclear na oposição ao regime militar, que se empenhou na construção das usinas de Angra. Depois de ser ministro do Meio Ambiente e ter conduzido a Rio-92, passou a ver a energia também sob o prisma dos impactos globais. De volta ao Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo, onde lecionou durante anos, e após ocupar o cargo de secretário de Meio Ambiente de São Paulo, Goldemberg participa intensamente dos debates em torno das mudanças climáticas.
Conforme explica nessa entrevista à Horizonte Geográfico, entre os desafios urgentes nesse campo estão a criação de programas de eficiência energética e uma melhor distribuição de energia para se evitar qualquer tipo de dependência de apenas uma fonte, ainda mais quando seus efeitos para o ambiente são prejudiciais.
HG – O petróleo é uma cultura entranhada na vida das pessoas. É possível viver sem ele?
Goldemberg – No momento, não. Se as reservas de petróleo se esgotassem subitamente, a civilização, nos moldes como existe hoje, desapareceria. A começar pelo transporte individual e de cargas, que hoje soma quase 1 bilhão de veículos no mundo.
A humanidade não está preparada para viver sem petróleo. Mesmo a US$ 100 o barril, o consumo não cessa de aumentar.
HG – E os impactos da utilização do petróleo também não deixam de crescer?
Goldemberg – O aspecto negativo dessa dependência é que o petróleo é responsável por aproximadamente um terço de todas as emissões de gases de efeito estufa responsáveis pelo aquecimento global, bem como pela maioria dos problemas de poluição nos países produtores. Fora do petróleo e de outros combustíveis, como o carvão e a energia nuclear, as alternativas são o etanol, o biodiesel, o gás natural e o hidrogênio.
No transporte, essas alternativas estão sendo usadas, mas hoje ainda representam muito pouco se compararmos à quantidade
de petróleo consumido no mundo.
HG – O consumo de petróleo da China representa hoje uma questão importante, à medida em que a economia do país não pára de crescer. Como resolver esse impasse?
Goldemberg – É uma questão difícil. Quanto à geração de energia, as atenções estão centradas na China e nos Estados Unidos, onde a eletricidade é produzida a partir do carvão em grande maioria. Com o crescimento acelerado da economia chinesa, isso está se tornando um problema, porque impede um pacto internacional que envolva os dois países para reduzir as emissões de carbono. A recente Conferência de Bali tratou desse problema e ficou acertado que se tentará um acordo até 2009.
HG – O senhor coordenou no Brasil, em 2007, um estudo internacional que propôs investimentos globais de US$ 18 bilhões por ano em energias limpas até 2012. Qual o cenário ideal para o País nesse setor?
Goldemberg – A matriz energética brasileira é limpa, porque está sustentada pela geração hidrelétrica. Excluindo o desmatamento da Amazônia, o Brasil é o 18º entre os maiores emissores de gases de efeito estufa, o que nos dá uma posição confortável nas negociações internacionais. Todo esforço deve ser feito para aumentar o número de usinas hidrelétricas, tomando, é claro, as medidas adequadas para proteger o meio ambiente.
HG – O ano de 2008 já começou com o debate sobre as ameaças de apagão, diante da estiagem que reduziu as represas das hidrelétricas. Como evitar esse tipo de problema no curto prazo?
Goldemberg – O governo precisa lançar um programa de emergência para racionalizar
eletricidade, envolvendo residências e empresas. Precisamos ter consciência de que o problema é grave. É importante economizar e adotar soluções rápidas, que sejam possíveis na prática e nos livrem do racionamento.
Fonte: http://www.edhorizonte.com.br/revista/index.php?acao=exibirSecao&obj=Site&secao[id_secao]=6&edicao[id_edicao]=27
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