Desastre no Japão também é problema ambiental
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Desastre no Japão também é problema ambiental


Atingida por tsunami, cidade portuária de Minamisanriku, no nordeste do Japão, ficou submersa em algumas áreas. (Foto: AP/Kyodo News)

Com informações do G1 [1, 2, 3, 4, 5, 6], da Reuters [1, 2], Agência O Globo e EFE via Yahoo! Notícias, da BBC e do Greenpeace

O terremoto e o tsunami que ocorreram no Japão, na última sexta (11), deixaram um saldo de milhares de mortos, feridos e desaparecidos. Infelizmente, os números continuam a ser contabilizados (e a aumentar) no momento em que este post é escrito. O tremor, que chegou a magnitude de 9 graus, foi o 4º pior da história mundial e o pior já registrado no Japão. O primeiro-ministro Naoto Kan afirmou que os acontecimentos são um desastre natural "sem precedentes".

Infelizmente, o sofrimento – já bem grande com as perdas causadas pela tragédia – está se tornando ainda maior devido a um desafio que a população e as autoridades japonesas têm de enfrentar – um desafio ambiental. Afinal, se as ondas e o tremor não estão diretamente ligados com a ação do homem (há controvérsias), não se pode dizer o mesmo do vazamento de material radioativo das usinas nucleares.

No dia do terremoto, reatores da usina Fukushima Daiichi foram desligados pelo sistema de segurança. Para não permanecerem aquecidos, precisariam de um sistema de resfriamento, que não foi ligado por falta de energia. Depois de vários dias de tentativas de resfriá-los, houve explosões nos reatores. A situação é especialmente delicada nas terras nipônicas pelo fato de que 30% da eletricidade do país é gerada por usinas nucleares. O acidente já está no grau 6 da INES (Escala Internacional de Eventos Nucleares) – o acidente de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986, ficou no grau 7, o maior possível.

Destruição provocada pela explosão nos edifícios dos reatores. (Foto: Tokyo Electric Power Co/Reuters)

O Greenpeace explica que o combustível das usinas, após ser utilizado, vira lixo radioativo, em um processo no qual “há a possibilidade de ocorrer um acidente, contaminando água, solo, ar, além de pessoas e animais, e ainda não foi encontrado um destino seguro e permanente para esse lixo”. E completa: “A exposição ao material radioativo pode gerar nos seres humanos o desenvolvimento de câncer, má formação fetal, aborto, falência do sistema nervoso central, síndrome gastrointestinal, entre outras doenças”.

O primeiro-ministro pediu a retirada de todos que moram num raio de 20 km em torno da usina – cerca de 200 mil pessoas, que receberão milhares de tabletes de iodo para se prevenir contra os efeitos da radiação – e advertiu as pessoas num raio de 30 km para que não saiam de casa. Poucas horas após as explosões, o material radioativo já estava sendo dispersado e o índice de radiação no local caiu drasticamente, mas a situação ainda preocupa. Pelo menos 190 pessoas foram contaminadas e 22 estão hospitalizadas, em tratamento. Os níveis de radiação aumentaram na terça-feira (15) em várias cidades japonesas, inclusive Tóquio.

Em entrevista ao Jornal Hoje, o professor e físico nuclear José Goldemberg declarou: "Depois de Chernobyl, não houve nenhum acidente importante. Isso deu aos engenheiros nucleares a certeza de que a tecnologia estava dominada. O acidente japonês vai destruir as esperanças de que a energia nuclear é uma energia limpa". Richard Black, especialista de meio ambiente da BBC, levanta dúvidas:
Se levarmos em conta que outras usinas nucleares japonesas já foram atingidas por terremotos, é questionável se elas devem ser construídas na costa leste, logo ao lado de uma zona sísmica ativa.

E se lembrarmos que o acidente nuclear nos EUA [tragédia de Three Mile Island, ocorrida em 1979] pôs fim à construção de reatores no país, qual o impacto de Fukushima em uma era em que muitos países – como a Grã-Bretanha, estão considerando investir novamente na indústria nuclear?

Moradores de Tóquio acompanham primeiro pronunciamento do imperador Akihito após tragédia. (Foto: Reuters)

O episódio colocou governos em alerta: Alemanha, Suíça e outros países da União Europeia estão repensando seus projetos de usinas. Mas, no Brasil, o ministro de Minas e Energia, Edson Lobão, disse na segunda-feira que o país não revisaria seus planos para o setor. “Ainda estamos observando. Não se sabe a extensão da questão japonesa”, afirmou. Mas o ministro da Secretaria-Geral de Presidência, Gilberto Carvalho, revelou que a presidenta Dilma Rousseff estava preocupada com a crise nuclear.

O presidente da Eletrobras Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro da Silva, já foi chamado pelo Senado para esclarecer as condições de funcionamento das usinas nucleares brasileiras. A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, afirmou que “o desastre é de larga escala, é monumental. Todo o planeta vai aprender com esse fato triste e lamentável que aconteceu no Japão”. O Brasil criou um grupo interministerial para acompanhar a crise.

Uma ativista da ECOLO Japan (grupo que busca criar um Partido Verde no Japão) relatou por e-mail a angústia dos japoneses, esperando melhoras na situação das usinas. Ela convoca o movimento ambiental global para agir pelo fim da energia nuclear. “Nós não podemos prever terremotos e o tsunami, mas podemos evitar futuros danos ao recusar usinas nucleares no Japão e em todo o mundo”, afirma.

Diante das circunstâncias e dos perigos, muitos ambientalistas certamente atenderão ao pedido da ativista.

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