Décadas de razão desperdiçada
Sustentabilidade

Décadas de razão desperdiçada


Imagem obtida em Público
Depois de ler o artigo de Miguel Sousa Tavares "Desculpe, Gonçalo" no Expresso de 10/12/2011, não podia deixar de trazer para aqui pelo menos um extracto desse texto (lido na homenagem a Gonçalo Ribeiro Telles  promovida pelo Centro Nacional de Cultura e Fundação Calouste Gulbenkian, em 06/12/2011):

Desculpe, Gonçalo (extracto)
por Miguel Sousa Tavares

«Há uns quinze anos, fiz uma entrevista ao Gonçalo Ribeiro Telles para uma revista que então eu dirigia, a "Grande Reportagem". E, na introdução à entrevista, escrevi: "este homem tem razão há vinte anos e ninguém o ouve". Se hoje tivesse de refazer essa introdução, a única coisa que mudaria era escrever "este homem tem razão há trinta e cinco anos e continuam a não o ouvir".
Costuma dizer-se que o destino de certos homens é terem razão antes de tempo e não serem escutados por isso mesmo. Não é o caso de Gonçalo Ribeiro Telles: ele teve razão não antes, não depois, nem fora de tempo: teve razão no tempo exacto, no tempo em que, saídos de uma ditadura, todos as esperanças e projectos eram possíveis, tudo era novo e limpo e havia um país todo para reinventar.
...
Nesta altura, quando eu me atrevia a contrapor a esta enxurrada de modernidade sustentada nos dinheiros europeus as ideias de um certo Gonçalo Ribeiro Telles, aqueles empresários de sucesso, aqueles infatigáveis empreendedores, aqueles políticos do instante que passa, olhavam-me com um olhar condescendente, como se eu fosse o último dos ingénuos ou dos imbecis: "O quê? As hortas comunitárias em Lisboa? O corredor verde para Monsanto? Os jovens na agricultura? Cooperativas de distribuição de produtos agrícolas? As oliveiras, os chaparros, os sobreiros, as nogueiras?  Os lençóis quê - freáticos? A reserva agrícola? A reserva ecológica? É pá, o homem está xexé"!
Imagem obtida em Link2greenway
E assim, com essa invocada superioridade de quem dizia representar a modernidade contra a estagnação, as ideias de Gonçalo Ribeiro Telles foram chutadas para o caixote do lixo da história, até descobrirem, tarde e a más horas, que, afinal, eram elas a modernidade. Foi o tempo que demorou a construir as auto-estradas para os espanhóis trazerem a preços imbatíveis os seus produtos agrícolas e até o peixe que nós lhes vendemos e eles nos revendem aos nossos queridos Continente e Pingo Doce. O tempo que nos demorou a fazer 58 campos de golfe e outros tantos projectados e para serem regados com água que há-de cair do céu,  fornecida pela srª Merkel. O tempo que nos levou a formar uns milhares de doutores e engenheiros desempregados de profissões que ninguém sabe ao certo o que sejam e onde possam prestar. O tempo que nos levou a acumular 200.000 milhões de euros de dívida pública. Enfim, o tempo que nos levou a proclamarmo-nos um verdadeiro caso de sucesso.
...
Gostaria de poder acabar dizendo apenas "Obrigado, Gonçalo Ribeiro Telles !". Gostaria também de poder dizê-lo em nome de uma geração, que é a minha, que cresceu a admirar a coragem, a simplicidade e a alegria com que o Gonçalo Ribeiro Telles sempre nos transmitiu a sua razão. Gostaria, mas não posso. Porque dizer obrigado seria reconhecer que esse seu longo e sereno combate não foi basicamente em vão: que produziu frutos, que evitou os males para que ele tantas vezes nos avisou, as asneiras e os erros trágicos que escusavam de ter sido cometidos, que, enfim, fez de Portugal um país melhor e com mais razões de esperança. Mas, infelizmente, não foi o caso. Porque fomos, sim, surdos e negligentes perante a sua mensagem, seria hipócrita agora dizer "obrigado, Gonçalo!". Em vez disso, acho que só nos resta dizer: "Desculpe, Gonçalo!"



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