Agroecologia: o futuro da agricultura
Sustentabilidade

Agroecologia: o futuro da agricultura


São cada vez mais as vozes e as provas que destacam as enormes vantagens da agroecologia ou da agricultura ecológica em relação à agricultura industrial. Desde as evidentes e óbvias vantagens ambientais devido à não utilização de pesticidas e fertilizantes químico, até às vantagens económicas e sociais devido a uma partilha de lucros sem comparação possível, passando pelas vantagens em termos de saúde humana e de resiliência face à crise energética!
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A seguir, o depoimento de Miguel A. Altieri, presidenta da SOCLA - Sociedade Científica Latinoamericana de Agroecologia, onde refere que «Em Cuba, onde existe a única agricultura "post-petróleo" do mundo, num hectare produzem alimentos suficientes para alimentar 15 a 30 pessoas com uma eficiência energética de 15 a 30; isto significa que eles obtém 30 kilocalorias por cada kilocaloria que gastam no cultivo: a eficiência média da agricultura industrial é 1,5.»



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O relatório de dezembro de 2010 de Olivier De Schutter, relator especial da ONU para o direito à alimentação conclui que, especialmente onde há mais pobreza, a agroecologia permite um elevado aumento da produtividade agrícola em relação aos métodos dependentes de pesticidas e fertilizantes químicos, enquanto contribui para a diminuição da fome e para a melhoria das condições de vida dos agricultores.

O texto que se segue é um extrato do documento "Agroecologia e o Direito Humano à Alimentação Adequada", tradução brasileira do referido relatório:

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«12. A agroecologia é tanto uma ciência quanto um conjunto de práticas. Ela foi criada pela convergência de duas disciplinas científicas: agronomia e ecologia. Como uma ciência, a agroecologia é a “aplicação da ciência ecológica ao estudo, projeto e gestão de agroecossistemas sustentáveis”. Como um conjunto de práticas agrícolas, a agroecologia busca maneiras de aperfeiçoar os sistemas agrícolas imitando os processos naturais, criando, portanto, interações biológicas benéficas e sinergias entre os componentes do agroecossistema. Ela apresenta as condições de solo mais favoráveis para o crescimento das plantas, particularmente pela gestão de matéria orgânica e pelo aumento na atividade biótica do solo. Dentre os princípios básicos da agroecologia destacam-se: a reciclagem de nutrientes e energia nas propriedades agrícolas, em vez da introdução de insumos externos; integrar cultivos agrícolas e a pecuária; diversificar as espécies e os recursos genéticos dos agroecossistemas no tempo e espaço; e concentrar-se em interações e produtividade em todo o sistema agrícola e não se concentrar em espécies individuais. A agroecologia faz um uso altamente intensivo do conhecimento, baseado em técnicas que não são transmitidas a partir dos níveis superiores, mas desenvolvidas com base no conhecimento e experimentação dos agricultores.
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Uma ampla gama de técnicas baseadas na perspectiva agroecológica tem sido desenvolvida e testada com sucesso em diversas regiões. Estas abordagens envolvem a manutenção ou introdução de biodiversidade agrícola (diversidade de culturas, pecuária, agrofloresta, pesca, polinizadores, insetos, biota do solo e outros componentes que ocorrem nos e em relação aos sistemas de produção) para atingir os resultados desejados na produção e sustentabilidade.
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17. Estas técnicas de conservação de recursos com baixos insumos externos têm um comprovado potencial para melhorar significativamente a produtividade. No que pode ser o estudo mais sistemático do potencial destas técnicas até a presente data, Jules Prett y et al. compararam os impactos de 286 projetos agrícolas sustentáveis recentes em 57 países pobres cobrindo 37 milhões de hectares (3% da área cultivada em países em desenvolvimento). Eles concluíram que estas intervenções aumentaram a produtividade em 12,6 milhões de propriedades agrícolas, com um aumento médio na safra de 79%, ao mesmo tempo em que melhoraram a oferta de serviços ambientais essenciais. Os dados desagregados desta pesquisa demonstraram que a produção alimentar média por propriedade aumentou em 1,7 tonelada por ano (até 73%) para 4,42 milhões de agricultores que praticam agricultura em pequena escala cultivando cereais e tubérculos em 3,6 milhões de hectares e que o aumento na produção de alimentos foi de 17 toneladas por ano (até 150%) para 146.000 agricultores em 542.000 hectares cultivando tubérculos (batata, batata doce, mandioca). Após a UNCTAD e UNEP terem reanalisado o banco de dados para apresentar um resumo dos impactos na África, descobriu-se que o aumento na produtividade média na safra foi até maior para estes projetos do que a média global de 79%, com um aumento de 166% para todos os projetos africanos e um aumento de 128% para os projetos no leste da África.

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18. O estudo de larga escala mais recente aponta para as mesmas conclusões. A pesquisa encomendada pelo projeto Foresight Global Food and Farming Futures do Governo do Reino Unido reviu 40 projetos em 20 países africanos nos quais a intensificação sustentável foi desenvolvida durante a década de 2000. Os projetos incluíram entre outros, a ampliação nas colheitas (particularmente os aperfeiçoamentos através do cultivo de plantas participativas em culturas órfãs negligenciadas até então), manejo integrado de pragas, conservação do solo e agrofloresta. Até o início de 2010, estes projetos tinham benefícios documentados para 10,39 milhões de agricultores e suas famílias e aperfeiçoamentos em aproximadamente 12,75 milhões de hectares. A produtividade nas culturas mais que dobrou na média (aumentando 2,13 vezes) em um período de 3-10 anos, resultando em um aumento na produção agregada de alimentos de 5,7 milhões de toneladas por ano, equivalente a 557 kg/propriedade agrícola.

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19. Algumas vezes, inovações aparentemente menores podem proporcionar altas produtividades. No Quênia, pesquisadores e agricultores desenvolveram a estratégia “atração-expulsão” para controlar ervas daninha e insetos que danificam as culturas. A estratégia consiste em “expulsar” as pragas do milho pelo consórcio do milho com culturas repelentes a insetos, como o Desmodium, ao mesmo tempo em que os “atrai” para os pequenos lotes de capim Napier, uma planta que excreta uma goma pegajosa que atrai e aprisiona as pragas. O sistema não apenas controla as pragas, mas também tem outros benefícios, porque o Desmodium pode ser usado como forragem para o gado. A estratégia “atração-expulsão” dobra a produtividade de milho e produção de leite, ao mesmo tempo em que melhora o solo. O sistema já foi difundido para mais de 10.000 propriedades no leste da África por meio de reuniões municipais, transmissões nacionais em rádio e escolas de campo para agricultores. No Japão, os agricultores descobriram que patos e peixes eram tão eficazes quanto pesticidas para o controle de insetos nos arrozais, ao mesmo tempo em que proporcionavam proteína adicional para suas famílias. Os patos comem ervas daninhas, sementes de ervas daninhas, insetos e outras pragas, reduzindo, portanto, a mão de obra com capina, de outra forma feita manualmente por mulheres, e as fezes dos patos fornecem nutrientes às plantas. O sistema foi adotado na China, Índia e Filipinas. Em Bangladesh, o International Rice Research Institute relatou um aumento de 20% na produtividade das culturas e o rendimento líquido com base no custo monetário aumentou em 80%.»




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