Monsanto contribui muito pouco para ajudar o mundo a se alimentar
Sustentabilidade

Monsanto contribui muito pouco para ajudar o mundo a se alimentar



O Centro para a Segurança Alimentar (Center for Food Safety - CFS) demarcou-se em Março de 2012 contra o apoiante de longa data das culturas biotecnológias, a Fundação Bill e Mellinda Gates, pelo  anúncio do seu investimento de quase 2 bilhões de dólares americanos numa campanha para financiar o desenvolvimento de culturas geneticamente modificadas na tentativa de  resolver a fome mundial. A Fundação Gates tem sido amplamente criticada, por grupos de segurança alimentar e de interesse público, por promover os produtos geneticamente modificados nos países em desenvolvimento ao invés de investir em modelos de agricultura locais, orgânicos e sustentáveis.

“A industria biotecnológica tem explorado a imagem do mundo pobre e com fome para fazer avançar uma forma de agricultura dispendiosa, com insumo intensivo e de pouca ou nennhuma relevância para o desenvolvimento dos agricultores dos países”, disse Kimbrell Andrew, o Director Executivo do Centro para a Segurança Alimentar. “É mais que tempo para que a Fundação Gates redirecionar os seus investimentos nas empresas de biotecnologia, como a Monsanto, e o seu financiamento em projectos de culturas geneticamente modificadas sem saída (dead-end), para promover técnicas agroecológicas com experiência comprovada do seu aumento de produção de alimentos nos países em desenvolvimento”.

Desde a sua introdução, em meados dos anos 90, que os desenvolvedores das culturas geneticamente modificadas têm afirmado que as suas culturas vão reduzir a pegada ambiental da agricultura, proporcionando benefícios aos agricultores e atender às necessidades de fome do planeta. No entanto a plataforma de culturas geneticamente modificadas falhou na produção de resultados. As culturas geneticamente modificadas têm permanecido uma ferramenta industrial, que dependem de insumos caros, tais como as sementes patenteadas e de pesticidas e fertilizantes sintéticos, os quais os agricultores nas regiões com maior insegurança alimentar mal podem pagar. Por exemplo, 5 em cada 6 hectares de cultivos transgénicos no mundo são variedades resistentes a herbicidas, desenvolvidos explicitamente para aumentar a dependência de herbicidas caros, e este continua a ser o foco da indústria de Pesquisa e Desenvolvimento (R&D industry – Research & Development industry).

Em contraste, o consenso emergente de especialistas internacionais em desenvolvimento é que as soluções reais para enfrentar a fome no mundo devem ser baratas, de insumo baixo e utilizar, tanto quanto possível, os recursos locais/regionais em todas as áreas onde as culturas geneticamente modificadas falharam no seu objectivo . Por exemplo, a ONU e o Banco Mundial, em 2008, na sua Avaliação Internacional do Conhecimento da Agricultura, Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento (IAASTD – International Assessment of Agriculture Knowledge, science and Technology for Development), que contratou cerca de 400 especialistas de várias disciplinas, concluiu que as culturas biotecnológicas têm muito pouco potencial para aliviar a pobreza  e a fome. Em vez disso, a IAASTD ou a avaliação recomenda o apoio das abordagens agroecológicas e da soberania alimentar.

Em 1998, cientistas africanos, numa conferência das Nações Unidas oposeram-se fortemente à campanha promocional das culturas geneticamente modificads da Monsanto, que usou fotos de crianças famintas da África sob o título “Let the Harvest Begin” (Vamos Começar a Colheita ou Deixe a Colheita Começar). Os cientistas, que representavam muitos dos países afectados pela pobreza e fome, referiram que as tecnologias genéticas poderiam prejudicar a capacidade das nações para se alimentarem, destruindo a diversidade existente, o conhecimengto local e os sistemas agrícolas sustentáveis.

As nações em desenvolvimento também se opõem às patentes de sementes, que conferem às empresas de biotecnologia o poder de criminalizar a prática antiga de sementes de poupança, como “violação de patente”. Milhares de agricultores norte americanos foram forçados a pagar dezenas de milhões de dólares à Monsanto por danos e pelo “crime” de guardar sementes. Perda do direito de poupança de sementes, através da introdução de culturas geneticamente modificadas patenteadas, poderia vir a provar-se ser desastroso para  1,4 bilhões de agricultores nos países em desenvolvimento que dependem de sementes guardadas.

É cada vez mais perceptível que a pobreza, o acesso à terra e ao alimento e as políticas comerciais injustas são as principais causas da fome no mundo, ao invés da falta absoluta de alimentos. Outros factores que contribuem para a insegurança alimentar incluem a diminuição de investimentos em infra-estruturas (desde as instalações para armazenamento, a estradas até aos mercados) e o desvio crescente de alimentos para os biocombustíveis e ração animal. O programa Mundial de Alimentação das Nações Unidas observa que muitos agricultores dos países em desenvolvimento não conseguem pagar as sementes ou outros materias necessários para a produção de culturas, portanto as sementes geneticamente modificadas, que custam duas a seis vezes mais que o preço das sementes convencionais, são ainda menos acessíveis.

Ler aqui press room da própria CFS



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