Quercus e Greenpeace denunciam uso de madeira ilegal em edificios da UE
Sustentabilidade

Quercus e Greenpeace denunciam uso de madeira ilegal em edificios da UE


Bruxelas, 11 de Maio de 2004 7:00 - Activistas da Quercus e da Greenpeace
declararam hoje os edifícios do Comité Económico e Social (ECOSOC) e o
edifício Berlaymont, em Bruxelas, como "Cenário de Crime Florestal". A
iniciativa decorre de uma investigação que revelou que a madeira usada na
renovação destes edifícios é proveniente de empresas conhecidas pela prática
de comércio de madeira das florestas tropicais ameaçadas da Indonésia.
Muitas das chapas de contraplacado encontradas nos locais são provenientes
de empresas cúmplices na destruição das últimas florestas tropicais da
Indonésia, incluindo do abate dentro de uma reserva de extrema importância
para o tigre da Sumatra, uma espécie ameaçada.
Em 2002, Portugal foi um dos maiores importadores europeus de madeiras
tropicais (toros, madeira serrada, folheados e contraplacados), sobretudo de
países como o Gabão, o Congo (Brazaville), Camarões, Libéria, República
Democrática do Congo e Brasil. Apesar disso, os consumidores portugueses de
madeira e dos seus derivados desconhecem que parte dessa madeira tem origem
ilegal e destrutiva, razão pela qual a Quercus se associou à Campanha
Internacional do Greenpeace contra a importação de madeira tropical ilegal.
Na República Democrática do Congo, apesar de estar em vigor desde 2002 uma
moratória a novas concessões madeireiras, duas empresas portuguesas
obtiveram autorizações avulsas de exploração de mais de 6 milhões de
hectares de floresta tropical, cujo produto do abate se destina a indústria
madeireira portuguesa e em última análise aos consumidores portugueses.
Num dos edifícios, o ECOSOC, 50 activistas da "Unidade de Crimes
Florestais" do Greenpeace e activistas da Quercus descarregaram madeira
certificada FSC(1) para mostrar aos empreiteiros o tipo de madeira que
deviam usar. Os activistas delimitaram a área circundante ao edifício com
fita "Cenário de Crime Florestal" e descerraram duas grandes faixas na
parede do edifício com os dizeres "EU Forest Crime" e "EU: Stop Illegal
Timber Imports". Os activistas estão também a tentar envolver o edifício em
contraplacado certificado FSC, numa tentativa de suspender as obras enquanto
o cenário do crime florestal é investigado.
"A UE não só permite a importação de madeira ilegal para a Europa, como
incentiva o comércio em madeira destrutiva e ilegal através das aquisições
para os seus próprios projectos", disse Gavin Edwards do Greenpeace
International. "As florestas tropicais indonésias devem ser o lar dos
orangotangos e dos tigres e não de burocratas da UE em escritórios de
pelúcia."
Após anos de discussão, em 2003 a UE adoptou um plano de acção num esforço
para conter o comércio de madeira ilegal. Contudo, em vez de dar prioridade
a nova legislação para banir essas importações, optou por uma abordagem
baseada em acordos voluntários com um número limitado de países exportadores
de madeira. Sem esses acordos, continuarão a entrar na Europa grandes
quantidades de madeira e produtos de madeira provenientes de abate ilegal.
"Se a UE quer realmente pôr cobro à destruição da floresta e à pobreza em
regiões vulneráveis, precisa de ver para lá dos acordos voluntários", disse
o assessor do Greenpeace sobre florestas, Sebastien Risso. "Isso significa
fechar o mercado Europeu a todos os produtos de madeira ilegal e tomar
medidas duras que permitam às autoridades processar as empresas e os
indivíduos envolvidos".

Estima-se que cerca de 90% do corte de árvores na Indonésia é ilegal; o
abate de árvores em parques e reservas naturais é uma prática comum, sendo
frequentes os conflitos com as comunidades locais. Os produtos florestais
encontrados no edifício XXXX incluem madeiras das empresas RSK, IKMM e
Mujur, todas elas negociantes de madeiras provenientes das últimas florestas
tropicais de Kalimantan e Sumatra; e da AFR, uma empresa envolvida no corte
de madeira numa reserva de protecção do tigre. O contraplacado no edifício
ECOSOC é proveniente das empresas AFR, Mujur, e Korindo, esta última
envolvida, segundo o Governo indonésio, no comércio de madeira ilegal(2). A
Indonésia tem mais espécies ameaçadas de extinção, incluindo o orangotango,
do que qualquer outro país do mundo. O Banco Mundial descrever recentemente
o país como estando à beira de "um fenómeno de extinção de espécies de
proporções planetárias", e estimou que se o ritmo actual de destruição das
florestas continuar, a maior parte das florestas tropicais primárias da
Indonésia será abatida até 2010.


O contraplacado "amigo-do-ambiente" utilizado pelos activistas da Quercus e
do Greenpeace é certificado pelo Forest Stewarship Council (FSC). "Se as ONG
conseguiram encontrar madeira certificada para a acção de hoje, a UE também
o pode fazer e assim garantir que os fundos públicos não são gastos na
destruição das florestas tropicais", acrescentou Gavin Edwards.

80% das florestas primárias do planeta foram já degradadas ou destruídas, e
apenas 20% permanecem intactas. As florestas tropicais da Indonésia estão a
desaparecer a um ritmo inigualável no planeta. Uma área equivalente à da
Bélgica é destruída todos os anos (aproximadamente 30 mil km2, 1/3 da área
de Portugal). Os nossos governos estão a falhar na protecção das florestas
primárias da destruição através do corte ilegal e destrutivo.


Notas:

1. FSC é o sistema de certificação Forest Stewardship Council. O rótulo FSC
é a única garantia de que a madeira é proveniente de florestas bem geridas.
É o único sistema internacional de certificação a oferecer um mecanismo
transparente de monitorização desde a floresta até ao consumidor final, uma
característica fulcral para prevenir produtos florestais ilegais.

2. Inspecção oficial do Departamento Florestal Indonésio, Maio de 2003.




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