Sustentabilidade
Estudar Ernst Mayr - o "Darwin do Séc.XX"
Morreu o pai do conceito biológico de espécie, um dos grandes cientistas epensadores do seculo XX. Uma perda para a humanidade.Morreu Ernst Mayr, o Cientista Que Uniu a Teoria da Selecção Natural deDarwin com a Genética de Mendel
Por CLARA BARATA, Publico, Sábado, 05 de Fevereiro de 2005
Morreu o Darwin do Século XX, como era chamado o biólogo Ernst Mayr. Aos100 anos, completados em Julho passado, Mayr foi um dos cientistas mais importantes do século XX. Foi uma figura central para a moderna síntese doneo-darwinismo, ou seja, a amálgama das ciências da genética, sistemática,paleontologia e ecologia que permitiram conciliar a teoria da evoluçãoatravés da selecção natural de Darwin com as leis da hereditariedade, queo monge checo Gregor Mendel descobriu, cultivando pacientemente ervilhasno seu jardim.Mayr nasceu a 5 de Julho de 1904, em Kempten, na Alemanha, herdeiro de umalonga tradição de médicos, mas tomou-se de amores pela zoologia. A primeira grande oportunidade surgiu em 1928, quando foi encarregue damissão de esclarecer a relação entre os muitos espécimes deaves-do-paraíso dos museus europeus: foi enviado para a Nova Guiné, edepois para as ilhas Solomão, numa missão cujas dificuldades são impossíveis de conceber hoje, quando os exploradores e os seus assistentes de campo não correm grandes riscos de serem apanhados em embuscadas por nativos, como escreveu Jared Diamond no prefácio do livro que Mayrpublicou em 2002, aos 98 anos (What Evolution Is, ou o que é a evolução,numa tradução literal). Sobreviveu à malária, à febre de dengue, à desinteria, à morte por afogamento quando a canoa em que seguia se virou.Várias vezes foi dado como morto.Essas viagens de aventureiro permitiram-lhe contactar em primeira mão comalgo que Charles Darwin nunca tinha conseguido definir muito bem - aevolução das espécies.Nos anos que passou a bordo do Beagle, Darwin coleccionou espécimes, masfoi durante as décadas que se seguiram, em que nunca arredou pé deInglaterra, que o naturalista desenvolveu a teoria da selecção naturalcomo o mecanismo da evolução das espécies. Mas o modo de funcionamentodesse mecanismo permaneceu um pouco nebuloso; Mayr concluiu que é a partir do isolamento de determinadas populações que surgem novas espécies. Foi opioneiro da definição actualmente aceite de espécie biológica: uma população de indivíduos que conseguem procriar entre si, mas não com outros grupos, escreve o comunicado da Universidade de Harvard, queanunciou a sua morte.Uma autobiografia? No início dos anos 30, Ernst Mayr emigrou para os EUA, onde foiconservador do Museu de História Natural de Nova Iorque, primeiro, e do deZoologia da Universidade de Harvard, depois, onde terminou a sua carreira.Ainda agora tinha um gabinete lá.Em 2003, numa entrevista à revista The Scientist, explicou que sentia atentação da biografia, embora modestamente: Nos últimos tempos, tenho andado a escrever uma autobiografia científica, mas começo a pensar que estou velho de mais para isso. Nos seus 80 anos de carreira, Mayr esteve no centro das acesas polémicas que abalaram o campo dos biologia evolutiva, com o nascimento da sociobiologia, e da psicologia evolutiva. Escreveu mais de 700 artigos e 20 livros, mas foi em 1942 que publicou o primeiro livro que se tornou um marco, Systematics and the Origin of Species, onde propunha que a teoria da selecção natural de Darwin podia explicar toda a evolução, incluindo por que é que os genes evoluem, ao nível molecular. A teoria do equilíbrio pontuado, desenvolvida por Stephen Jay Gould e Niles Eldridge, foi beber ao livro Animal Species and Evolution, que Mayr publicou em 1963.Num artigo saído na Nature a 21 de Junho de 2004, quando a revista o homenageou pelo seu 100º aniversário, Mayr fez uma revisão da história da teoria da evolução no século XX: Tendo alcançado a rara idade de 100anos, encontro-me numa posição única: sou o último sobrevivente da idadede ouro da síntese da evolução, escreveu.Lamentou só não ter mais tempo: A biologia da evolução é uma zona de fronteira infindável e ainda há muito para descobrir. Só tenho pena de não ir estar presente para apreciar as descobertas futuras.
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