Sustentabilidade
Constituição Europeia: a nível Geral e a nível do Ambiente
É difícil não falar deste importante Referendo. Votar Não, não significa estritamente que se está contra o projecto europeu. Pode-se exigir uma melhor Constituição Europeia, isto é, a redacção da que está a ser proposta parece não ser válida em aspectos muito importantes.Além disso são mais de 810 paginas que estão em consulta e eu pergunto qual é o cidadão comum ( com o dia a dia extremente complicado que todos nós temos) que o terá lido inteiramente?Há artigos que merecem uma abordagem e reflexão atentas.
Portanto, por tudo isto e pelas explicações que se seguem, mais vale exigir uma melhor Constituição Europeia do que votar entusiasticamente no Sim e acarretarmos com os graves impactos abaixo referidos....A Nivel Geral segue a tradução das 30 razões, na altura divulgadas pelo Blogo Social Português ( com base por sua vez em Rebelion
)15 razões para aprovar a constituição
1. Pelo seu caracter constitucional define um modelo político de liberdade e solidariedade.
2. Integra com carácter vinculativo a Carta de Direitos Fundamentais que dá sentido à cidadania Europeia.
3. Situa os valores e objectivos da UE numa definição mais progressista que a maioria das constituições dos Estados membros, incluindo a Paz, a Liberdade, a Democracia, os Direitos Humanos, a Igualdade entre homens e mulheres, a Justiça, a Solidariedade, a Economia livre de mercado, o Emprego pleno, o Desenvolvimento sustentável, a não Discriminação por nenhum motivo de género, raça, credo, orientação sexual ou outro, e a erradicação da pobreza.
4. Introduz o conceito de democracia participativa e cria a iniciativa legislativa popular Europeia.
5. Estabelece a orientação federal da União, reconhecendo a sua dupla legitimidade porcedente dos estados e dos seus cidadãos.
6. Reforça as capacidades da UE na sua política externa e de defesa, consagra o multilateralismo, o respeito pelo direito internacional, a legitimidade da ONU e a solução negociada dos conflitos.
7. Estabelece uma política de coesão económica, social e territorial.
8. As leias da UE serão aprovadas conjuntamente pelo parlamento Europeu e pelo conselho Europeu.
9. Outorga à UE personalidade jurídica própria.
10. Amplia a cooperação entre países que desejem aprofundar as sua relações mais rapidamente.
11. Passa a existir maioria qualificada, através do duplo critério da população e do número de estados, acabando com a unanimidade até agora necessária.
12. Clarifica a divisão de poderes, com um legislativo partilhado entre a Comissão e o Parlamento; consolida a Comissão Europeia como governo da UE e cria a figura de presidente do Conselho Europeu e o de Ministro dos negócios estrangeiros.
13. Aumenta a participação dos parlamentos nacionais nas decisões da UE.
14. Reforça o papel das regiões, cidades e municípios.15. Institucionaliza a Convenção como método representativo e transparente no processo da revisão constitucional.
15 razões para reprovar a constituição:1. Não se trata de uma autêntica constituição surgida através de uma assembleia constituinte eleita por sufrágio universal directo; pelo contrário, estamos perante um tratado internacional multilateral, como reflexa a sua adopção, ratificação e revisão por parte dos Estados membros e não dos seus cidadãos.
2. A Carta de Direitos Fundamentais não amplia o âmbito de aplicação do direito na UE nem cria novas competências (Art. II-111), pelo que se resume a uma declaração de princípios sem consequências práticas.
3. Os autênticos valores e objectivos da UE estão reflectidos na utilização da palavra "competividade" 27 vezes, enquanto que a "Economia Social de Mercado" aparece apenas uma vez, com o atributo de "altamente competitiva" (Art. I-3). Objectivos como a "paz" e o "desenvolvimento sustentável" não são posteriormente concretizados.
4. O único mecanismo real de democracia participativa explicita é a iniciativa de legislatura popular que é muito limitada, já que não obriga a Comissão Europeia a apresentar a proposta, e está reduzida às áreas de competência da Comissão (fundamentalmente política comercial, monetária e mercado interior); para além destes constrangimentos, estas iniciativas só poderão ir avante com a mobilização de pelo menos 1 milhão de cidadãos provenientes de um número significativo de estados membros.
5. Consolida a poder de decisão da soberania estatal na UE, já que apenas uma instituição, o parlamento Europeu, é eleito directamente por sufrágio universal dos Europeus.
6. Permite à UE recorrer à guerra preventiva e aposta no militarismo ao criar uma agência para a aquisição e investigação militar e obrigar os estados membros a incrementar os seus gastos militares (Art. I-41)7
. As políticas de coesão Económica, Social e territorial continuam a ter por base fundos mínimos (o orçamento da UE o não ultrapassa 1,27 % do PIB comunitário), ao mesmo tempo que a harmonização entre estados é cada vez mais difícil, e é interdita a convergência legal em termos de condições de trabalho, segurança social e luta contra a exclusão social.
8. O parlamento Europeu continua sem ter autonomia ou iniciativa legislativa, mantendo-se como orgão consultivo.
9. Nega a cidadania Europeia aos residentes extra-comunitários, negando-lhes por acréscimo uma série de direitos.
10. Aprofunda as divergências entre estados membros, ao estabelecer a possibilidade de uma série de cooperações reforçadas, o que implica apostar na consolidação de uma Europa a várias velocidades.
11. Mantém a unanimidade paralizante relativamente à adopção de políticas fiscais e sociais, assim como leis contra todo o tipo de descriminação (Art. III-124). Pelo contrário, alarga a maioria qualificada para temas económicos como a liberalização dos serviços, com os previsíveis efeitos sociais negativos.1
2. Não estabelece uma verdadeira divisão de poderes, já que (por exemplo) a comissão Europeia mantém o monopólio da iniciativa legislativa ao mesmo tempo que se vê reforçado o seu poder executivo na UE.
13. Os parlamentos nacionais continuam sem nenhum poder de decisão relativamente às decisões da UE.
14. O papel das regiões, cidades e municípios continua a ser meramente consultivo.
15. Esmaga-se o tratado constitucional, ao exigir a unanimidade dos 25 estados membros da UE para a ratificação da sua reforma (Art. IV-443), institucionalizando a lógica da diplomacia internacional em detrimento de qualquer processo constituinte.
Impactos e consequencias da nova Contituicao europeia para o ambiente.Por Jose Pedro Tavares
Country Programmes Officer for Portugal, Greece and Turkey Royal Society for the Protection of BirdsInternational Division The Lodge Sandy Bedfordshire SG19 2DL UK
A minha organização tem seguido e contribuido desde o inicio para o processo de formulacao do novo tratado constitucional. De um modo muito sumario, e daquilo que me lembro das reunioes e conversas que tivemos sobre o assunto, na versao final do novo tratado constitucional ha perdas e ganhos em relacao a situação actual.
Perdas ou falhas principaisTransparencia e acesso aos documentos - segundo a nova Constituicao, a votacao e os relatorios dos conselhos de ministros serao do dominio publico,mas os grupos de trabalho e o COREPER (onde a maior parte do trabalhodetalhado e feito) continuarao "fechados".
No geral, o acesso a documentos nao melhorara substancialmente com a nova constiuticao - uma oportunidade perdida Substancia da PAC (Politica Agricola Comum), Politica Comunitaria dasPescas e a Politica de Transportes 'locked in' - A substancia das ja antiquadas politicas comunitarias de refrencia-framework policies - nao sera alterada com a nova Consitituicao, sendo que estas estarao 'locked in' no tratado constitucional e so poderao mudar atraves de um voto unanime num Conselho de Ministros - ou seja, cada um dos 25 actuais estados membros temdireito a veto quanto a esta materia. Esta situacao é indesejavel porque ,por exemplo, os objectivos da PAC (desastrosos para a conservacao da natureza) poderão permanecer inalterados por muitos anos. Este é provavelmente a maior falha do novo tratado em termos de impacto e consequencias no ambiente.
Ganhos principaisO tratado introduz uma "iniciativa de cidadaos". Se um milhão de pessoas de um numero significativo de estados membros assinar uma peticao sobre um qualquer aspecto constitucional que esta a ser desrespeitado, a Comissao tera que estudar o tema. Isto abre excelentes oportunidades para grandes ONGAs Europeias como a BirdLife International ou a WWF, mas o efeito contrario tambem pode acontecer, com caçadores europeus a mobilizarem-se para exigirem uma mudanca na Directiva Aves.
Reforço dos poderes do PE - Os poderes do Parlamento Europeu saem reforcadosna nova Constituicaso, nomeadamente no controle sobre a totalidade doorcamento comunitario (incluindo o orcamento da PAC). No geral isto e positivo para o ambiente, porque o PE é mais receptivo aos temas ambientaisque a Comissao.
IncognitaAccesso ao Tribunal Europeu de Justica - as regras de acesso ao TEJ são diferentes na nova Constituicao, e nao e claro que implicacoes isto tera,nomeadamente em relacao a possibilidade das ONGS levarem casos que digamdirectamente respeito a decisoes das instituicoes europeias ao TEJ.
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