Sustentabilidade
Baía de Guanabara e suas curiosidades
Em 1818, quando se dedicava à descoberta de novas espécies no Rio de Janeiro, o naturalista francês Joseph Paul Gaimard confidenciou a amigos que não gostava de trabalhar na Baía de Guanabara. Tinha medo de que as muitas baleias que nadavam por ali afundassem o seu barco. Hoje, a baía ainda provoca temor – não devido aos cetáceos, há muito desaparecidos. O que afasta boa parte das 8 milhões de pessoas vizinhas desse ecossistema é a poluição. Em certas regiões, como a mais próxima à Refinaria Duque de Caxias (Reduc), qualquer forma de vida parece impraticável, tamanha é a quantidade de lixo. Mas uma nova pesquisa mostra que a baía, apesar das 20 toneladas diárias de esgoto ali despejadas, abriga uma biodiversidade exuberante. Veja a Reportagem de Renato Grandelle, em O Globo.
O levantamento é assinado pelo Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes), em parceria com 70 profissionais de empresas e universidade fluminenses. A primeira fase da “Avaliação ambiental da Baía de Guanabara”, como o projeto foi batizado, rendeu o mais extenso diagnóstico do ecossistema. São 1.500 páginas de análises de sedimentos, identificação de compostos químicos despejados na água, inventário ecológico e análise de costões e manguezais, entre outros.
Até o início do projeto – que, agora, entra em uma nova etapa -, os trabalhos sobre a baía eram dispersos e pontuais. A análise do Cenpes ratificou estudos mais antigos e aprofundou discussões. Um dos enigmas destacados é por que aquele ecossistema, embora tão atacado, permanece vivo. A resposta está no intercâmbio mantido entre ele e o Oceano Atlântico. A cada 11 dias, metade da água da baía é “trocada”: sai dali rumo ao mar aberto, sendo prontamente substituída por outras correntes.
A baía é um estuário tropical. A água salgada entra diariamente pela força das marés, por baixo, e a corrente que já estava lá é expulsa por cima – explica Marcelo Vianna, professor do Departamento de Biologia Marinha da UFRJ e participante do projeto do Cenpes. – Por isso, encontramos espécies oceânicas no meio da baía, como bagre africano e tilápia.
A mudança de águas transforma a baía em um berçário natural. Corvinas, linguados e camarões crescem ali e só após adultos buscam o Atlântico. A maioria concentra-se logo na abertura do golfo, até a altura de Paquetá. Trata-se da região mais funda – chega aos 55 metros de profundidade – e mais influenciada pelas correntes oceânicas. Até o tubarão-anjo, que atinge pouco mais de um metro de comprimento, encontra ali as suas presas.
O fundo da baía, porém, tem seus habitantes, a maioria concentrada na Área de Proteção Ambiental (APA) de Guapimirim. A região, ao nordeste da baía, conserva formações originais de mangue. Esta vegetação repleta de raízes serve de proteção para peixes e siris jovens, entre outros animais, impedindo que se tornem alvos fáceis.
A baía que se revela nos estudos é mais plural do que julgam os seus vizinhos. Vendo-a do litoral, é difícil acreditar que, em seu centro, há regiões onde a profundidade pouco passa de 5 metros. Parece impossível que ali cheguem rios ainda limpos – eles existem, embora venham de áreas rurais. Soa impossível a afirmação de pesquisas de que as praias banhadas pela baía, em geral, têm areia mais limpa do que suas vizinhas oceânicas – o dado, porém, é comprovado por diversas análises. E é justamente o pequeno número de banhistas nas praias da Baía de Guanabara que explica como elas conseguem ser mais preservadas.
Também foi impressionante constatar como não há registro de espécie extinta entre as que habitavam a baía – ressalta Vianna. – Há, sim, algumas cuja população está diminuindo. É o caso dos botos, que se envolvem em acidentes com redes e ingerem muitos poluentes.
O cetáceo é um retrato da Baía de Guanabara mais lembrada: aquela comparada a uma lixeira, e não a berçários. O ambientalista Mário Moscatelli, que sobrevoa a Baía de Guanabara há 13 anos, reconhece avanços no programa de saneamento básico implementado pelo governo estadual, mas reivindica novos investimentos.
-O poder público não fez nada em quatro décadas. Agora, será obrigado a compensar essa ausência nos próximos cinco anos, até as Olimpíadas – decreta. – A ocupação desordenada e a ausência de políticas de habitação contribuíram para o despejo de lixo na baía. O Caju, onde desaguam os rios Jacaré, Irajá, São João de Meriti, Sarapuí e Iguaçu, é particularmente crítico. As melhorias no saneamento farão diferença a médio e longo prazo. Agora precisamos de anúncios de medidas mais imediatas.Desconhecimento sobre a fauna ainda é grandeVeja a matéria na íntegra no Ecodebate :http://www.ecodebate.com.br/2011/01/26/apesar-das-20-toneladas-diarias-de-esgoto-estudo-revela-biodiversidade-surpreendente-na-baia-de-guanabara/Excelente matéria: repleta de informações interessantes! A natureza é perfeita, pena que não temos a mesma qualidade dela.Andei pela Baía de Guanabara no comecinho do ano de Barca ( Rio- ´Niterói) e pude ver lixo boiando: sacos plásticos, embalagem de xampu....mas mesmo assim é um local inspirador, ainda mais sabendo de todas essas informações.Tenho algumas fotos...dia nublado, mas de uma beleza solar..heheheheeh
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Fotos: Érica Sena- 02/01/11 |
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