Sustentabilidade


Bom exemplo sustentável para o Brasil

Antônio Cesa Longo 


As sacolas plásticas nunca estiveram em tal evidência como agora. Recentemente, alguns legislativos e executivos tentaram extingui-las, em nosso entendimento de forma prematura, dos supermercados. Trata-se de um debate longo, promissor e indispensável, mas que está apenas começando. Onde este debate ocorre, fica claro que as sacolas não são “vilãs” do meio ambiente.
O Paraná, por exemplo, estabeleceu, há cerca de quatro anos, que o varejo distribuísse aos consumidores exclusivamente sacolas de material oxibiodegradável, à época apontado como a solução. Atualmente, pesquisas comprovam que este material é mais prejudicial ao ecossistema do que as sacolas tradicionais, devido à ação química da substância adicionada ao plástico para acelerar sua decomposição. Entendemos, pelo estágio inicial do debate no Brasil, que as tentativas de adoção de medidas extremas de banir as sacolas por alguns Estados podem se revelar uma repetição deste equívoco, e não podemos manter os consumidores na iminência de pagar esta conta. E ainda prejudicar o meio ambiente.
Os supermercados gaúchos gastam R$ 190 milhões por ano com a aquisição de 1,5 bilhão de sacolas plásticas. O varejo seria, portanto, o maior beneficiado com a proibição da distribuição deste material. A melhor solução, no entanto, será aquela que favorecer a todos os segmentos da nossa sociedade. Se as sacolas plásticas forem proibidas nos supermercados, cada família gaúcha será onerada, em média, em R$ 15 mensais com a compra de embalagens para destinar seu lixo. Isto é: atualmente, se abolirmos as sacolas de plástico dos supermercados, estaremos, na prática, apenas trocando a cor dos nossos sacos de lixo, de branco para azul ou preto.
Além disso, não há alternativas consistentes para substituir as sacolas plásticas. Econômicas, duráveis, resistentes, práticas, higiênicas e inertes, são reutilizáveis e 100% recicláveis. Para tornar ainda mais complexo o debate, a Agência Britânica de Meio Ambiente divulgou, há cerca de dois anos, estudo que comprova que, para “empatar” com a sacola plástica em termos de sustentabilidade, um saco de algodão precisa ser utilizado 131 vezes sem ser lavado, em função dos danos causados à natureza em seu processo produtivo. Se não lavarmos o saco de algodão teremos muita contaminação e se lavarmos o impacto ambiental será significativo.
As sacolas plásticas tradicionais não poluem quimicamente o solo. Só trarão malefícios se descartadas equivocadamente. Elas possuem o mesmo poder calorífico do diesel e não aproveitar este potencial é desperdiçar energia. E é exatamente neste ponto que entra a participação do poder público: entendemos que é papel do governo, acima de qualquer outra esfera da sociedade, criar soluções para este problema. Mais que ampliar a coleta seletiva a toda a população, é imperativo, também, que se incentivem as cooperativas de catadores e criem-se usinas de reciclagem. Se aplicássemos aos sacos plásticos a mesma destinação das latinhas de bebidas, por exemplo, o problema estaria resolvido. O Brasil recicla 22% dos plásticos. Além disso, embalar o lixo em plástico é uma recomendação dos órgãos de saúde para que se evitem contaminações. Os supermercados gaúchos vão apoiar e aderir a qualquer alternativa que seja comprovadamente eficaz na redução do impacto ambiental e que mantenha a praticidade para a população.
Em parceria com a Fecomércio/RS e com o Ministério Público do Rio Grande do Sul, a Agas deflagrou, em solo gaúcho, no ano passado, a campanha de conscientização “Sacola bem utilizada ajuda o meio ambiente” e desde então os supermercados estampam este selo nos saquinhos para lembrar o consumidor, no ato da compra, de sua responsabilidade ambiental ao abastecer sua sacola. Aliados a esta campanha, a regulamentação da qualidade das sacolas plásticas distribuídas – através de lei estadual já em vigor no RS –, o treinamento de empacotadores pelo varejo e uma maior conscientização dos consumidores gaúchos culminou em uma redução de 19% no uso de sacolas plásticas no segundo semestre do ano passado, em nosso Estado, na comparação com o mesmo período de 2011.
Ainda entendemos que é pouco, e que o consumo das sacolas plásticas pode ser mais reduzido. Nossos estudos mostram que 65% das sacolas plásticas saem dos caixas sem ter sua capacidade total utilizada, e que 13% dos gaúchos levam sacolas extras para outras utilizações em casa. A solução pode começar, portanto, pelas nossas casas.

[Antônio Cesa Longo é economista e presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (AGAS)]

Artigo publicado no jornal DCI .



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